Maria de Belém recusa "coroação" de Marcelo
Maria de Belém Roseira arrancou ontem oficialmente a caminhada presidencial. Na Sala Sophia de Mello Breyner, no Centro Cultural de Belém (CCB), onde também Cavaco Silva se fez à estrada para chefe de Estado, faltaram cadeiras para as mais de 300 pessoas que foram dar o seu apoio à ministra da Saúde de António Guterres.
Com as atenções mediáticas divididas com uma casa que Maria de Belém conhece bem, o Largo do Rato - onde, também às 18.00, António Costa recebia Pedro Passos Coelho e Paulo Portas para o segundo round de negociações entre o PS e a PAF -, a ex-presidente socialista conseguiu reunir várias correntes da família rosa e disse por que vai a jogo: em nome de "um imperativo patriótico" e de um "impulso de cidadania".
Na primeira fila da sala estavam pesos-pesados como Manuel Alegre, Almeida Santos, Jorge Coelho, Vera Jardim (mandatário nacional da candidatura, segundo confirmou o DN) ou Marçal Grilo (mandatário em Lisboa), que muito aplaudiram quando Maria de Belém, de discurso escrito, afirmou que se candidata "para disputar a vitória". Dito de outra forma e em jeito de recado a Marcelo Rebelo de Sousa: "Não há coroação" do Presidente, mas, ao invés, eleições.
Duas horas depois, em entrevista à TVI, Maria de Belém lembrou que o professor "está há 15 anos a fazer comentário" e frisou que as sondagens não a assustam. "Se considerasse que a diferença nas sondagens não fosse algo que eu pudesse reverter, não me candidataria", atirou, acrescentando que tem "todas as possibilidades" de vencer e que tenciona "congregar votos".
Congregando ou não o eleitorado, na apresentação da candidatura houve um primeiro sinal de unidade. Pelo menos, interna. Costistas e seguristas (estes últimos em peso) estiveram lado a lado e só o próprio Costa - porque não apoia qualquer candidato à primeira volta - e Seguro - afastado da vida política - faltaram à chamada. Alberto Martins, Carlos Zorrinho, Miguel Laranjeiro, Álvaro Beleza, João Proença, Eurico Brilhante Dias, José Junqueiro, António Galamba, António Braga e Óscar Gaspar representaram a "quota" do ex-líder, ao passo que Marcos Perestrello, Laurentino Dias e José Lello, apoiantes do atual secretário-geral, também disseram "presente". Tal como inúmeras figuras do setor da saúde e os apoiantes de sempre: Joshua Ruah, Luís Reto e António Rendas.
Sem nunca mencionar o espaço do homem com quem mais disputa o espaço à esquerda de Marcelo, Maria de Belém não poupou nos remoques a Sampaio da Nóvoa. Defendeu um(a) Presidente "com uma visão equilibrada dos poderes presidenciais" e sustentou que do próximo inquilino de Belém é esperada "maturidade e visão políticas e não um programa político que nem a Constituição determina nem a sociedade exige".
Puxando dos galões - do currículo político e em instituições de cariz social, leia-se -, Maria de Belém ensaiou novo ataque ao ex-reitor da Universidade de Lisboa: "Não nasci hoje para a política."
A antiga ministra chegou ao CCB ladeada pelo marido e, como Marcelo, recorreu ao lado católico, citando o Papa Francisco, para vincar a dimensão humanista da sua candidatura. Como prioridades políticas e sociais, caso chegue a Belém, apontou a necessidade de erradicar a pobreza (especialmente a infantil) e garantir verdadeira igual entre homens e mulheres.
No final da sessão, Almeida Santos, presidente honorário dos socialistas, manifestou o seu apoio "formal e sincero" à única candidata que é militante do PS, que disse dar "mais garantias" que os demais já no terreno, enquanto Jorge Coelho sublinhou a "enorme maturidade" da ex-companheira no executivo de Guterres.
Otimista estava também Alegre. O ex-candidato presidencial vaticinou que Maria de Belém será a "surpresa" da corrida presidencial.